
Dizem os os infectologistas, pessoal que anda na moda ultimamente, que os vírus de gripe, mutantes pela própria natureza, alterados por passarem por um hospedeiro animal, no caso dessa vez, os porcos, existem desde sempre. Só que uma epidemia mundial, conhecida por pandemia, só foi surgir quando a humanidade se desenvolveu a tal ponto que encurtou distância. Em 1918 as viagens intercontinentais, por via marítima, eram uma realidade. Foi por via marítima que chegou à Porto Alegre a chamada “gripe espanhola”, também conhecida como “La Dansarina” (não me perguntem porque). Soma-se a Grande Guerra e os movimentos de contingentes de soldados pelo mundo, e o caos estava feito.
As informações se confundem quanto às origens, mas a gripe sempre retorna, pulando gerações. Em 1957 e 1968 surgiram variações da gripe asiática, derivada da mutação do vírus nas aves. Em 1976 surgiu uma variação vinda dos porcos nos Estados Unidos. Em 1997 voltou a gripe derivada das aves na Ásia. Agora em 2009, o ciclo retoma seu caminho. Um vírus muta em um corpo animal e é retransmitido ao homem. Obviamente muito mais gente morreu em 1918. Muitas estatísticas falam em até 100 milhões de pessoas. Em Porto Alegre morreram milhares. Mais da metade da população foi contaminada. Eram outros tempos onde a higiene não era lá muito propagada. Não que hoje seja muito melhor. O DMAE – Departamento Municipal de Água e Esgotos foi criado em 1928, com outro nome, mas era o mesmo órgão. Mas apenas 27% da população de Porto Alegre tem acesso a esgoto tratado. Dizem que “para a Copa de 2014” tudo deve melhorar. É bom saber. Talvez a Copa sirva para algo além de encher o bolso de empreiteiros e o ego de políticos.
Esse inverno, mesmo que eu goste de frio, tem sido cruel. Em março tomei a vacina da gripe. O Lorenzo também tomou. Mas ele teve febre alta, fomos correndo ao hospital. Ainda bem que não era nenhum fim de mundo. Sinusite. Muito catarro. Mas não era a “maldita”. O terrorismo psicológico se instalou na mente e na alma de todos os pais nas últimas semanas. . Pra “melhorar”, sábado para domingo tive febre, nem tão alta, e já senti o drama. No outro dia, acabrunhado, me segurei na macheza. Segunda fui trabalhar. Dor de cabeça. Catarro. Tosse. Febre de novo de noite. Trinta e oito que fosse, mas febre. Na terça me consultei, enfim. O pulmão estava bom. Só entupimento das vias aéreas. Não era “a maldita”. Dois dias em casa de molho. Voltar a trabalhar, meia-boca que seja. Retomar a vida. Cápsulas, chás, xaropes, descongestionante caseiro (pra lá de impressionante o rendimento: meio litro de água, uma colher de sal e meia de bicarbonato e manda ver pra dentro do nariz que sai até o encosto do Tite lá de dentro) e espero que tudo retorne ao normal.
Assim como espero que o Inter retorne à realidade. Mais de 20 mil colorados encararam a noite fria e chuvosa de Porto Alegre, a despeito de muitos cronistas influentes da capital que acreditam que os colorados não vão ao estádio, para assistir e torcer contra o Corinthians. O Corinthians não chega a ser um vírus, o vírus é muito mais potente que ele, mas de tempos em tempos sofre mutações e contamina o Inter com seus sintomas mais cruéis. Em 2005 foi a arbitragem. MSI. CBF. Muitos sintomas. O vírus era tão letal que matou a si mesmo e morreu na segundona. Em 2007 contrataram um dos melhores infectologistas do país chamado Mano Menezes. Tinha salvado outro paciente do vírus segundona. Sabendo como contaminar colorados, justo que conhece o paciente dentro de sua própria casa, nela foi treinado para tanto, Mano aniquila as defesas naturais do Inter e amorcega o jogo. A arbitragem auxilia e não enxerga impedimentos. A gripe se instala no corpo de um cordeiro e se transmite ao hospedeiro final. A dose é letal. Mata o paciente no fim. Nada mais cruel que o gol sair pelo lado de um cordeiro em um time de pastor de ovelhas. Não me entendam mal. O Inter tem amplas possibilidades de ganhar quatro ou cinco seguidas, mais as duas atrasadas, e liderar o campeonato. Mas é melhor criarmos anticorpos. E libertarmos nossa própria “La Dansarina” para contaminar os outros.
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